Ciaran
Kennelly viajou ao Brasil a convite da ABCPCC para falar sobre
a integração da OSAF à Federação Internacional de Autoridades Hípicas (IFHA),
especialmente ao comitê de provas de grupo (IRPAC) e ao Ranking Mundial dos
cavalos de corrida (WTR), baseado nos ratings.
O
irlandês foi handicapper do Irish Turf Club entre 1987 e 1999, depois
handicapper no Hong Kong Jockey Club entre 1999 e 2007, assumindo,
posteriormente, a função de consultor da IFHA, tendo sido chairman do WTR e
principal coordenador nas integrações de Estados Unidos, Japão e agora América
do Sul à Federação Internacional. Já realizou conferências nos Estados Unidos,
Japão, França, Nova Zelândia e muitos outros países.
Após
abertura feita pelo Presidente Sergio Luis Coutinho Nogueira, ressaltando a
importância do assunto e, sobretudo, da visita de Ciaran, este passou a falar
sobre a origem da IFHA e sua principal missão: Promover a boa regulação e as
melhores práticas em assuntos internacionais, coordenando e harmonizando as
regras dos seus países membros acerca de criação, corridas e apostas[1].
O
primeiro ranking internacional de cavalos de corrida, à época chamado IC, foi
publicado em 1977. Agregando muitos outros países, passou a se chamar World
Thoroughbred Ranking (WTR) em 2004, sob os auspícios da IFHA. Com a inclusão da
OSAF no ano passado, hoje esse ranking engloba todas as regiões (nos anos 90 entraram
os EUA e o Japão e mais recentemente África do Sul, Austrália, Nova Zelândia,
Hong Kong, Cingapura e Emirados Árabes).
Em
última análise, disse Ciaran, o WTR confere credibilidade aos cavalos treinados
na América do Sul. Antigamente, antes da inclusão dos cavalos da região no WTR,
para que um animal brasileiro tivesse um rating reconhecido, precisava correr
fora do país, ou depender da análise de algum handicapper do país destino (como
acontecia com Dubai). A partir do ano passado, depois de 2 anos de trabalho dos
handicappers da OSAF em conjunto com Ciaran, as avaliações locais, baseadas na
metodologia internacional dos ratings, são válidas para todos os fins.
Um
desses fins é a análise técnica das provas de grupo, o que é feito mundialmente
pela IFHA através do IRPAC[2],
criado em 2002 justamente para controlar a correta utilização dos critérios
internacionais nas provas de grupo dos seus países membros.
Esse
critério internacional reconhecido é baseado na qualidade dos quatro primeiros
colocados nos três últimos anos de cada prova de grupo. Ou seja, por mais que
tradição e prêmios sejam aspectos relevantes, salientou Ciaran, o que garante
ou não a manutenção de uma prova como sendo Grupo 1, 2 ou 3 é a qualidade
média, calculada pelos ratings, dos seus protagonistas principais.
O
IRPAC é quem recomenda que uma prova seja rebaixada ou promovida; e que também
recomenda rebaixamento ou promoção de um país no famoso Livro Azul. O efeito
dessas recomendações, ou melhor, o destino prático disso é a SITA, a associação
internacional dos leiloeiros, a quem cumpre utilizar os respectivos black-types nos catálogos de leilão.
Ciaran
salientou que é imprescindível, para evitar o rebaixamento de um país no Livro
Azul, que estruturas de análise técnica das provas de grupo existam e sejam
efetivas em nível local e regional. Assim, agora que a metodologia dos ratings
foi adotada e a OSAF fala a mesma língua dos demais países, precisa se
estruturar para analisar se os critérios estão sendo seguidos, e, em consequência,
propor rebaixamentos e promoções de provas, lastreada, obviamente, pela média
de ratings já explicada.
Antes
assim do que simplesmente se submeter de forma unilateral a rebaixamentos via
IRPAC, explicou Ciaran. “Failure to do so and to evaluate all the South
American Group races will put the position of South America as a Part I country
in jeopardy”.
Nesse
ponto o Presidente Sergio Coutinho Nogueira pediu a palavra para dizer que o
Brasil já estava estruturando um comitê local, tendo conversado com representantes
dos principais Jockeys Clubes a respeito, com ótima receptividade. Ciaran então
se mostrou satisfeito, dizendo que mais uma vez – como no caso das medicações –
o Brasil estava dando o exemplo.
O
consultor disse que, assim como no exemplo da integração Australiana, será
concedida uma tolerância aos países da América do Sul no tocante às médias das
suas provas de grupo. Não teremos que, no princípio, ter a mesma média dos
países europeus, nem mesmo da própria Austrália.
Uma
medida que deve ser incentivada pelos Jockeys e Associação de Criadores e
Proprietários é a exportação de cavalos em treinamento que possam correr no
nível dos ratings aqui estabelecidos, no exterior. Caso da Old Tune, por
exemplo, que nos EUA correu exatamente no rating aqui conferido, dando
credibilidade aos ratings das corridas brasileiras. Caso idem do argentino
Suggestive Boy.
Ciaran
a seguir explicou basicamente como são construídos os ratings, salientando que
foram 2 anos de trabalho junto aos handicappers da América do Sul e que,
logicamente, seriam necessárias horas e horas para que os presentes entendessem
a sistemática. Os ratings partem do princípio de que a maioria ou ao menos boa
parte dos cavalos correm no mesmo nível em suas várias atuações. A partir
desses cavalos é possível construir, com uma precisão matemática, baseada em
tabela de diferenças de corpos x libras nas diversas distâncias, os ratings
acima e abaixo desses chamados link
horses.
Finalmente,
Ciaran explicou a necessidade de os países de uma mesma região usarem uma só
tabela de peso por idade, a famosa tabela II. O irlandês fez questão de frisar
ser inaceitável, aos olhos da Federação Internacional, que dentro de um mesmo
país hipódromos utilizem tabelas diferentes, como ocorre no Brasil.
Lembrando
que o peso numa prova de peso por idade é ignorado para efeito de ratings (ou
seja, um 3 anos com x quilos de vantagem não tem essa diferença computada em
seu desfavor frente a um cavalo mais velho), disse que um mesmo cavalo,
chegando na mesma posição frente a um mesmo cavalo nos dois hipódromos teria
ratings iguais, mesmo deslocando pesos diferentes, o que desacredita toda a
metodologia.
Finalizou
dizendo que o status das corridas na América do Sul está em nossas próprias
mãos.
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